Aos que imaginavam que as conseqüências da greve encerravam com a demissão do secretário de educação, comércio, turismo e controle de zoonoses, Zé Pinóquio, causou surpresa o lançamento, quinta-feira, da pedra fundamental da Faculdade de Engenharia Filosófica. Surpresa que não acompanhou os leitores de Trezenhum, é bom ressaltar, que já estavam informados do furo por nossas atentas e prestativas leitoras.
A idéia de um desmembramento da filosofia do resto das humanas vinha há tempo e ganhou vulto com a greve, como demonstrou, por exemplo, a instituição da Assembléia Paralela Revolucionária da Filosofia, que pretendia realizar a revolução verdadeira conforme a coisa-em-si presente no mundo das idéias.
O cabeça do movimento, o professor doutor Mutley - um simpático dono de uma simpática risada -, professor da filosofia, explica a necessidade de desmembramento: "É preciso admitir a especificidade da filosofia, nós estamos muito acima desses reles mortais, ignorantes, burros, imbecis, violentos, anti-democráticos e bárbaros. Nós somos filósofos!" Questionado sobre o porquê de ser engenharia filosófica e não somente filosofia, o autor do Best-Seller Refute Zenão em um jogo de futebol foi direto ao ponto: "Porque nós precisamos de dinheiro e precisamos mostrar que somos úteis para consegui-lo. Já estou quase me aposentando e até hoje minha mãe pergunta o que faz um filósofo! Agora veja se alguém pergunta o que faz de diferente um engenheiro de alimentos de um nutricionista." Ele se recusou a comentar qual seria a utilidade de um filósofo ou um engenheiro filosófico.
A Faculdade de Engenharia Filosófica tem unido os mais diversos matizes ideológicos; desde a direita, com o Movimento Filosófico Anauê-Brazil pela Exterminação dos Nordestinos e dos Judeus, até a esquerda, com o Movimento Afirmação da Negação. M..., integrante deste e mestrando da lógica (principal reduto do movimento), explica como foi possível tal aproximação: "Precisamos ser maduros, hoje na política é assim: primeiro a gente entra na dança, depois a gente muda ela. Trata-se de um passo necessário para a revolução", e completa: "precisamos aprender a perdoar. Com a FEFi nunca mais um filósofo irá rasgar cartazes, pois estaremos preocupados com ações mais nobres".
Conforme Trezenhum apurou, contudo, a FEFi está com dificuldades para achar um local para se instalar: quiseram ir para o Olimpo, mas a medicina recusou; as engenharias também recusaram, por achar a engenharia filosófica uma pseudo-engenharia; química e física, por não considerarem-na uma ciência verdadeira; a única faculdade que mostrou certa compaixão foi a de artes, através do departamento de circo e humor pastelão, que ofereceu a parte vaga do depósito de debaixo da escada, desde que no fim do ano seja realizado um "jogo dos filósofos" igual ao do Monty Python. O problema é que a Faculdade das Humanas também não quer a filosofia de volta, por considerarem-na uma pseudo-humanas: "tem muito homem para pouca mulher", resume Maomé, professor da sociologia, com passagem pela engenharia (não filosófica).
O lançamento em si da pedra fundamental da Faculdade de Engenharia Filosófica, que os filósofos preferiram chamar de "pedra filosofal", não foi livre de problemas e confusões. Como a pedra era muito grande e pesada, o professor doutor Mutley optou por dividi-la em doze pedaços, uma para cada um dos demais presentes - professores, alunos da graduação e da pós. Dividida a pedra, o professor doutor Mutley ficou ao centro, coordenando toda a ação com citações em grego de Aristófanes (ele admitiu depois que esqueceu o discurso e só lembrava de Aristófanes no momento). Feito o lançamento, foi preciso chamar a segurança do pastus para evitar brigas entre eles e os alunos das sociais, pois no lançamento da pedra filosofal vários vidros do centro acadêmico e da empresa júnior das sociais foram quebrados, deixando cinco pessoas feridas pelos estilhaços, e uma com um corte na testa, ao ser atingida diretamente por uma pedra.
Questionado sobre o porquê do ato tomar essa forma, E..., do Movimento Filosófico Anauê-Brazil pela Exterminação dos Nordestinos e dos Judeus, disse que a idéia original era fazer do lançamento da pedra filosofal "um estouro", mas a bomba explodiu antes do tempo. "Graças à Deus, desta vez ninguém perdeu o dedo ou se machucou. Só a empregada lá de casa sofreu queimaduras de terceiro grau no rosto, mas ela é negra".
Após o ato, os filósofos, carregados de tochas e foices, foram até o Moon-Clean comemorar.
Professores da filosofia reagem negativamente
Não são todos os professores da filosofia que simpatizam com a idéia da fundação da Faculdade de Engenharia Filosófica. Segundo o professor Lorde: "Eu sempre digo que filósofo é tudo caipira!". Professor Ostrogodo foi na mesma linha: "É uma faculdade de nível canavial! Desejam uma faculdade de engenharia filosófica, mas sequer temos teologia. Uma universidade não pode ser assim denominada se acaso não possua uma faculdade de teologia!". Questionado, o professor Salin manifestou sua opinião escarrando no chão (quase acertando o pé da vice-diretora da Faculdade com o ato) e assoando o nariz na mão.
Biblioteca promete ser fonte de divergência
Professores das ciências sociais não vêem problema com a saída da filosofia da Faculdade, muitos acham que vai ser até bom, "porque limparemos nossa faculdade desses direitosos burgueses", conforme o professor Spaceships. Mas avisa: "a biblioteca não terá um livro a menos com a saída da filosofia! Inclusive, um grupo de professores encaminhou uma proposta ao reitor para que os livros só possam ser retirados por alunos da própria faculdade."
Reitor abstém-se de comentar
O reitor absteve-se de comentar. Segundo ele, uma rebelião dos professores estava pondo em risco todo o seu jogo no SimUni-2007.
Quem é professor doutor Mutley
Professor doutor Mutley é o simpático dono de uma simpática risada. Seu grande plano de vida é se tornar o Kant nacional, por isso nunca saiu da cidade em que nasceu - poucas vezes foi muito longe do pastus, vale ressaltar. Isso já lhe custou a vaga de centro-avante no time da Macaca-Louca, importante equipe da cidade. Exímio costureiro, também é famoso pelos animados serões que organiza em sua casa, para trocar pontos de crochê. Graduou-se, mestrou-se e doutorou em filosofia na universidade em que hoje leciona (dizem que pretende casar nela também). Como doutorado defendeu a revolucionária tese A influência do cultivo da cana-de-açúcar na elaboração do mundo das idéias em Platão. Além do best-seller Refute Zenão em um jogo de futebol, professor doutor Mutley também é o autor de Se fosse eu e não Górgias, Sócrates estaria perdido, e da referência mundial Breve e introdutório estudo sobre o capítulo I do livro I da Física de Aristóteles, um pequeno tratado de quase 1500 páginas em que ele analisa o referido capítulo do referido livro do referido autor, e compara traduções em 73 línguas diferentes, para chegar à humilde conclusão de que a sua não é a melhor versão do texto: "Talvez Aristóteles tenha conseguido se manifestar melhor".
Nota da redação: Trezenhum não tem nada a dizer
Isso mesmo, nada.
Trezenhum. Humor sem graça. Nº 13. Todos os esquerdos reservados. Na ausência destes, o uso é livre. trezenhum.blogspot.com
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Postar um comentário